Hercy Filho: “Não conheço outro lugar com o potencial turístico do Tocantins”


O secretário de Turismo do Tocantins, Hercy Filho, defende que a indústria do ramo no Estado está caminhando para ocupar um espaço cada vez maior na composição do Produto Interno Bruto (PIB) local, bem acima do porcentual nacional, que é de 10%. O gestor acredita que a atividade turística no Tocantins já responde por esse índice, mas ainda longe de alcançar o nível desejado de exploração compatível com o seu potencial. O secretário projeta um crescimento rápido e significativo das atividades turísticas, em função dos investimentos do governo na organização da cadeia produtiva.

Hercy Filho aponta que os atrativos turísticos do Tocantins compreendem sete grandes regiões: os encantos do Jalapão; Serras Gerais; Palmas/Serras e Lago; vales dos grandes rios Araguaia e Tocantins; Bico do Papagaio, praias e Encontro das Águas; Cantão, praias e lagos; e Ilha do Bananal. Desses, segundo ele, pelo menos três – Jalapão, Serras Gerais e Ilha do Bananal – despontam como atrativos de interesse internacional e que podem ajudar a colocar o Tocantins entre os Estados com maior potencial para o desenvolvimento do turismo.

“Pela atividade que exerci nos últimos anos, eu não conheci o Brasil indo aos locais, mas o Brasil veio a mim, porque estava no Ministério do Turismo e todos os municípios procuravam o ministério. Eu devo dizer que dificilmente tem um Estado com tantas oportunidades diferentes de atrativos de turismo como o Tocantins. Temos um destino consolidado, conhecido no mundo inteiro, que é o Jalapão, uma joia rara que temos, e estamos fazendo todo um trabalho para ampliar seu potencial no sentido de atrair mais turistas para o Tocantins”, defende o secretário, ao falar das ações do governo para incrementar o turismo no Estado.

Nesta entrevista exclusiva ao Jornal Opção, concedida em seu gabinete na Secretaria do Turismo, Hercy Filho teceu críticas à falta de visão dos governos brasileiros, que quase nada investem em turismo; revela que o compromisso com o Tocantins o fez trocar o Ministério do Turismo pela Secretaria de Cultura e Turismo do Tocantins – hoje, apenas Secretaria do Turismo. Hercy conta que o sentimento nativista o acompanhou durante andanças pelo Brasil, em que fazia questão de mencionar Dianópolis, sua cidade natal – a antiga São José do Duro, famosa por ser palco do conflito coronelista que serviu de inspiração para a obra O Tronco, de Bernardo Elis.

Hercy Ayres Rodrigues Filho, de 62 anos, é engenheiro agrônomo e advogado. Foi prefeito de Dianópolis de 1993 a 1996, diretor de Habitação do Estado do Tocantins, chefe de gabinete do Detran-TO, chefe de gabinete da Secretaria Nacional de Políticas do Turismo, chefe de gabinete da Embratur e chefe de gabinete do Ministério do Turismo, tendo nesse cargo por cinco vezes assumido interinamente o cargo de ministro.

As sete maiores praias do Tocantins movimentaram mais de R$ 135 milhões

A temporada de praia de água doce do Tocantins se destaca como uma das maiores do País e movimenta a economia das cidades ribeirinhas neste período do ano. Como o sr. avalia o investimento que se faz na temporada de praia e a resposta como produto turístico?

A palavra que você usou – investimento – é a palavra certa. Vou dar um dado ilustrativo do poder de geração de emprego e renda que a temporada representa: em 2022, as sete maiores praias do Tocantins [Araguacema, Caseara, no Rio Araguaia; e Peixe e Pedro Afonso, no Rio Tocantins, entre outras] movimentaram algo em torno de R$ 135 milhões em vendas. As sete principais praias, sem incluir as outras. Isso demonstra que a atividade é altamente dinâmica, no sentido da garantia do retorno para a sociedade dos investimentos que o poder público faz.

Nós temos a grata satisfação de a natureza nos ter permitido que no mês de julho possamos trabalhar para estruturar, para qualificar nossas praias de forma que o Tocantins vire uma referência nacional e internacional, porque no Nordeste chove nesse período, e mar com chuva não é uma boa atração. O Sul é frio. Frio não é um turismo popular, é mais elitizado. Onde é que tem essa quantidade de atrativos, com fácil acessibilidade? Toda a Amazônia tem, mas com a acessibilidade do Tocantins é difícil encontrar. Se você for fazer um passeio no Alto Amazonas, tem de andar dois dias de barco. Nada contra, tem quem goste. E tem quem faça. Mas aqui a praia está a cinco quilômetros do asfalto. A praia de Palmas, se você quiser, desce de paraquedas dentro dela, do aeroporto direto para a praia. Temos no sul do Estado, Peixe e Paranã; passando pela Ilha do Bananal, a alta estação do Jalapão, vem a região central, com Palmas, os rios Araguaia e Tocantins até na confluência dos dois lá no Bico do Papagaio. Então, nós temos praia neste Tocantins inteiro.

A temporada de praia permite que muitos tocantinenses trabalhem

O que se pode esperar da temporada de 2023?

O governador vai lançar, na terça-feira, 13, a temporada 2023, um pouco mais elaborada, bem mais protegida, com envolvimento de todos os órgãos no sentido transversal que o governo vai atuar. Na proteção ao banhista, na questão ambiental da sustentabilidade, na questão da oportunidade para que os micros e pequenos empresários possam atuar nesse período. A gente tem exemplos que os dois maiores festejos de São João, o Carnaval com a dimensão que tem no Rio de Janeiro e São Paulo, as pessoas trabalham naquele período e praticamente sobrevivem o resto do ano daquilo que adquiriram. Em Caruaru (PE), em Campina Grande (PB), no Rio de Janeiro (RJ) e em São Paulo (SP). Então, nós temos a oportunidade de permitir que muitos e muitos tocantinenses também tenham a oportunidade de trabalhar, de ter uma ocupação, de ter a sua sustentação garantida para o restante do ano, trabalhando na atividade de fornecer alimentos, bebidas e serviços outros, que fazem a travessia e tudo mais. Envolve uma grande quantidade de atores econômicos envolvidos neste processo de forma que além de curtir uma bela natureza daremos ao Tocantins uma oportunidade de geração de renda para as pessoas.

Os 800 lagos do Cantão formados neste período representam grande potencial turístico, que é a pesca esportiva

A temporada de praia no Tocantins termina sendo muito curta para o grande investimento que recebe, apenas no mês de julho. O que é possível fazer para ampliar mais o período da temporada?

Um desses locais de praia que é o Rio Araguaia, tem impedimento em função da sazonalidade. No período chuvoso o Araguaia se torna um rio mais restrito a esse acesso. As praias ficam inundadas. Inclusive, os 800 lagos do Cantão, que estão sendo formados neste período, representam outro grande potencial turístico que é a pesca esportiva, e que nós estamos tratando de organizar para ampliar os nossos atrativos. Esse fenômeno só existe neste período. Mas não só o mês de julho. Julho é a alta estação. Nós temos o mês de julho como o ápice, alta estação, mas a partir do momento que os rios vão baixando e as praias vão sendo formadas, até agosto, setembro, outubro, nós temos atividades com frequência nessas praias. Só que agora, com as férias escolares há um investimento maior neste sentido. Nós temos que trabalhar sim. Nós estamos qualificando as pessoas que cuidam do transporte aquaviário em parceria com a Marinha do Brasil; nós estamos estruturando acampamentos na Ilha do Bananal para que os indígenas possam vender seus pacotes, agregados a muitos valores além da cultura, observação de aves, de animais, pesca, então nós estamos buscando estender a temporada de praia, para que esse período seja maior, para dar mais oportunidade de geração de renda para a pessoas. Mas nunca vai deixar de ser o mês de julho a grande estação desse período.

Começamos a estruturar pontos de visitação nas aldeias qualificando os próprios indígenas para receber turistas

A pesca esportiva e o étnico-turismo podem finalmente viabilizar a abertura da Ilha do Bananal, considerada que a maior ilha fluvial do mundo e que abriga o Parque Nacional do Araguaia e a reserva indígena Karajá?

Os produtos naturais estão lá. Os povos originários estão lá. Na Ilha tem a tradição do uso, até de uma forma que talvez não seja ambientalmente sustentável, os proprietários de rebanho bovino usam a pastagem para engorda gerando renda para os indígenas com aluguel das terras que são deles, o turismo gera muito mais, com muito menos trabalho e sem impacto ambiental. Pelo contrário, preservando o meio ambiente. No ano passado, numa atitude do governador Wanderlei, e aí não podíamos dar a devida divulgação, em função da vedação do período eleitoral, nós patrocinamos a passagem do Rally dos Sertões, que é um evento certamente nacional e internacional, por dentro da Ilha do Bananal, respeitando todas as regras ambientais, com a permissão dos órgãos responsáveis, Funai, Ibama, Icmbio e dos povos originários por meio dos caciques. A partir daí, começamos a estruturar alguns pontos de visitação, nas aldeias Santa Isabel [do Morro], Fontoura, para recepção dos turistas, qualificando os próprios indígenas para saber receber os turistas. Desde alimentação deles, o que mostrar, as trilhas que eles podem fazer, daí é um processo contínuo. Primeiro, precisamos despertar na comunidade [indígena] o potencial que eles têm.

A festa do Hetohoky, ritual de passagem que eles promovem, aquilo é maravilhoso. Eu sou um entusiasta. Você achar uma coisa natural, genuína, pra você mostrar para o mundo, não se tem ideia. Vai lá no Alto do Xingu, uma festa que atrai milhares de visitantes e a nossa aqui que não deixa nada a desejar, não tem essa visitação. Tudo isso nós estamos trabalhando no sentido de fazer com que a Ilha seja um local de acesso. Desde o presidente Juscelino [Kubistchek] que lá tinha uma estrutura física para receber visitantes, já recebeu o Príncipe Charles [Charles III, rei do Reino Unido], e outros visitantes ilustres. Todo menino aprende em Geografia que a Ilha do Bananal é a maior ilha fluvial do mundo, no Tocantins, antes é era Goiás, hoje pertence ao nosso Tocantins. Então nós estamos fazendo todo esse trabalho de qualificação, formatação daquele produto, de regulamentação do que se faz uso. Lá nós temos observatório de aves e a pesca esportiva, é cercado de água por todos os lados. O indígena sabe levar o pescador onde tem peixe. Ele sabe mais do que ninguém como conduzir esse pescador, como orientá-lo, como recebê-lo bem para que ele vire um divulgador dos nossos encantos. E uma coisa boa, estamos trabalhando em parceria, prefeitura, governo do Estado e governo federal, para colocar uma rota aérea no aeroporto de Gurupi. Para quê? Para aproximar o turista dos atrativos, além de representar um apoio importante para o turismo de negócios que Gurupi tem potencial.


What's Your Reaction?

fun fun
0
fun
lol lol
0
lol
omg omg
0
omg
win win
0
win
fail fail
0
fail
geeky geeky
0
geeky
love love
0
love
hate hate
0
hate
confused confused
0
confused

0 Comments

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *